O trabalho mais recente do artista paulistano Eduardo Kobra busca olhar a cidade “por uma lupa”. São Paulo: uma realidade aumentada é uma série de intervenções urbanas que busca chamar a atenção para os problemas da metrópole. Se em trabalhos anteriores Kobra tinha como foco a história de São Paulo (Muros da Memória) ou a proteção dos animais e do meio-ambiente (Greenpincel), o projeto realidade aumentada discute questões sociais que impactam diretamente a vida dos paulistanos.
Kobra trabalhou em 10 obras no período de 10 dias. O projeto teve início da calçada da Rua Helvética, na Cracolândia, onde Kobra contou com a colaboração de dependentes químicos na produção das obras. O trabalho itinerante seguiu para outras regiões do centro de São Paulo, da Vila Madalena e Capão Redondo, produzindo narrativas diversas sobre a vida na cidade.
Os murais produzidos até agora incluíram uma pintura de uma cama 3D, ironicamente, em uma calçada repleta de moradores de rua. A obra “Troca-se” consistia em uma série de cartazes lambe-lambe com os dizeres “troca-se condomínio de luxo por parque”, “troca-se remédio contra estresse por gentileza” e “troca-se câmeras de vigilância por ruas mais seguras”. O trabalho “Desaparecida” deu destaque para o retrato de uma menina e o telefone de contato da mãe que está a sua procura. E “Desemprego” é um enorme mural com o currículo de um auxiliar de vendas que está sem serviço há dois anos.
No meio desse processo, que contou com a participação direta da comunidade, Eduardo Kobra concedeu uma entrevista para a equipe do Arq.Futuro, em que reflete sobre a motivação para o projeto e sobre seu papel como artista em estimular um debate sobre a necessidade de transformação urbana. Sua maior inquietação hoje é tentar “colorir toda a cidade e a vida difícil dos paulistanos”.
“Comecei a pintar nas ruas, autodidata, sempre entendi a arte de rua como uma importante ferramenta de comunicação, mas com o passar do tempo a conhecida Street Art mudou de direção, e questões estéticas se tornaram mais importantes que as questões originais propostas pelos grafiteiros ligados a cultura Hip-Hop, que utilizavam os muros para expressar ideias ligadas, muitas vezes, a protestos contra racismos, realidades sociais, o que me motivou foi olhar para trás novamente e reconhecer minhas origens”, diz ele.
Como resultado desse trabalho, ele espera transmitir uma mensagem de gentileza e respeito. “Sou hiperativo, talvez por este motivo eu tenha em meu portfólio cerca de cinco diferentes caminhos. Minha retribuição por tudo que sou vem das ruas, e é justamente nas ruas que estou plantando minhas sementes, proporcionando a valorização de áreas, situações e pessoas que geralmente são desprezadas, repensando os caminhos que a arte de rua tem tomado, propondo uma conversão. Somos todos interconectados e interdependentes. Somos todos iguais. Contribuindo com os menos favorecidos, podemos melhorar nossa cidade”.
Diariamente, Kobra posta fotos e vídeos sobre as novas obras na sua página de Facebook. Acompanhe.