Entrevista | Philip Yang

Urbem é finalista no New Ideas for Housing London, concurso internacional de soluções urbanas para a crise habitacional londrina
15/09/2015
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O Instituto Urbem está entre os 100 finalistas escolhidos pela competição internacional New Ideas for Housing London, chamada pública de ideias e soluções para a crise habitacional londrina, que recebeu 200 inscrições de 16 países. A shortlist foi divulgada nesta terça, 15 de setembro. 

Promovido pela New London Architecture e pela Prefeitura de Londres, o edital buscou contribuições em quatro áreas do conhecimento: construção e licitação; desenho e produto; formas de financiamento; e planejamento urbano. As propostas vencedoras serão divulgadas no dia 14 de outubro. 

Finalista, o projeto Multiply London: Space and Time foi desenvolvido pelo Instituto Urbem em conjunto com o chileno Alejandro Aravena, diretor executivo da Elemental, o italiano Carlo Ratti, professor do MIT e colunista do Arq.Futuro, e o escritório franco-brasileiro Triptyque, fundado por Grégory Bousquet, Carolina Bueno, Guillaume Sibaud e Olivier Raffaelli.

"Numa conversa entre todos, nós consideramos que, juntos, tínhamos algo a dizer. De certa forma, os problemas enfrentados pelas metrópoles globais são comuns. Como membros dessa comunidade global, e como ativistas em prol da formação de tecidos urbanos mais eficientes, justos e belos, sentimos que poderíamos de alguma forma contribuir com reflexões importantes", comenta Philip Yang, fundador do Instituto Urbem e integrante do conselho consultivo do Arq.Futuro. "Preconizamos a hipermixidade: a mistura intensa de usos (comércio, residencial, lazer) e de classes sociais, num contexto de maior densidade do uso do solo", diz. Confira a entrevista exclusiva com Philip Yang:

O sr. poderia descrever o quadro habitacional londrino?
Muito sinteticamente, o drama londrino está associado a uma demanda muito forte resultante de um crescimento populacional (natural e imigratório, caso raro entre as capitais europeias); à destinação de capitais do mundo inteiro à aquisição de ativos imobiliários em Londres; à alienação, em décadas passadas, de um volume expressivo de habitações sociais; e ao aumento da pobreza, como resultado do aumento dos custos de habitação.

Como nós, brasileiros, ainda à mercê do modelo MCMV, podemos compreender essa crise?
Após a Segunda Guerra, Londres e Paris tiveram seus momentos semelhantes ao programa Minha Casa, Minha Vida, respectivamente com as New Towns e as HLMs. Mas eles perceberam que tinha sido um erro e interromperam esses programas em seus moldes originais. É difícil entender por que continuamos a errar com o Minha Casa, Minha Vida depois de tantas lições oferecidas em outras partes do planeta. As habitações sociais, quando construídas em periferias, tornam-se polos de exclusão e violência, além de agravarem os problemas de mobilidade. É um modelo que não se sustenta. É difícil entender por que continuamos com um modelo desses, quando temos a chance de tomarmos a dianteira da inovação com novos modelos de uso do solo e de financiamento público-privado.


No projeto proposto para Londres, como foi a articulação do Instituto Urbem com Elemental, Ratti e Triptyque?  
Estávamos todos engrenados e trabalhando intensamente para outra chamada pública: Réinventer Paris, em que o instituto também é finalista com dois projetos. Recebemos a notícia da nova chamada e nos perguntamos: vamos tentar reinventar Londres também? Rapidamente abraçamos mais esse projeto de forma coletiva.

As propostas para Londres e para Paris têm elementos comuns?
O principal traço comum é a tentativa de promover a mistura de usos e a mistura de pessoas, em formas que o mercado tradicional está pouco habituado a praticar. Queremos demonstrar que diferentes formas de convívio e de compartilhamento de espaços são possíveis e capazes de gerar retornos ao investimento iguais ou até superiores aos que o mercado está habituado a auferir, desde que forças públicas, privadas e cívicas estejam engajadas no encaminhamento do projeto.

Essas experiências internacionais podem dialogar com a realidade brasileira, abrindo horizontes?
Embora as cidades globais vivam problemas comuns, cada uma vive um contexto histórico específico, que demanda soluções específicas. De maneira geral, podemos dizer que sim, o modelo que concebemos é viável em outras metrópoles globais, desde que ajustado às realidades sociais, regulatórias e fiscais de cada cidade.

Qual é a importância de ter uma abertura pública e internacional para poder inserir ideias e inovações na discussão sobre cidades?
Felizmente, a inteligência é algo que brota em todas as partes do mundo. Fechar-se às diferentes e extraordinárias soluções que têm sido desenvolvidas mundo afora me parece algo pouco apropriado. A urbanização é uma questão global. Então, nada melhor que discuti-la globalmente, de forma a aproveitar o que é produzido em outros lugares.