Estariam nossas ruas condenadas?

POR GUSTAVO PARTEZANI
14/11/2018
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É apenas a partir do monitoramento qualitativo das novas formas de uso das ruas e do estabelecimento de um programa para sua transformação que a gestão pública deve partir para ações de renovação da infraestrutura existente, etapa necessária para a consolidação destes espaços. Novos pavimentos, mobiliário, iluminação, arborização e atualização tecnológica dos modais de transporte resultam em uma cidade mais adequada e valorizada.

 

Ao mesmo tempo que as formas de uso do espaço público para pessoas são monitoradas e reinventadas, são criadas condições para a redução dos problemas de mobilidade. A redução do limite de velocidade nas principais vias da cidade é um bom exemplo: reduzindo o limite aumentou-se a eficiência no deslocamento e, consequentemente, o número de acidentes e a área de espaço público ocupado pelos carros diminuíram.

 

Sob essa ótica, algumas ruas da cidade passam a ter seu uso questionado. Ao realizar uma contagem do número de pessoas se deslocando por meio de transporte público ou de bicicleta sobre essas vias em comparação à quantidade de pessoas em automóveis, se poderia pensar em uma proposta para que a rua ganhasse uma nova conformação e, consequentemente, novos usos.

 

O espaço destinado ao automóvel seria bastante limitado, e uma justa distribuição dos usos da rua, voltada às pessoas, poderia ser feita. As ruas representam a maior porcentagem de espaço público nas cidades, áreas destinadas ao proveito dos cidadãos para realizarem suas atividades cotidianas. Estaria a rua condenada às funções de deslocamento de carros e mercadorias? Ou esse espaço público poderia ser ocupado de outra maneira? É sobre essa disputa que as cidades deveriam refletir neste momento.

 

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Gustavo Partezani, arquiteto e urbanista, é fundador do escritório URBR e ex-Diretor de Desenvolvimento da SP Urbanismo, empresa de urbanismo ligada à Prefeitura de São Paulo. Gustavo também é um dos autores da publicação DOTS nos Planos Diretores, do WRI Brasil.