Reconstruindo a cidadania: o surpreendente caso do Jardim Colombo

CASA VOGUE | 11 DE DEZEMBRO, 2018
12/12/2018
Compartilhar:

                   Reconstruindo a cidadania: o surpreendente caso do Jardim Colombo

                   Reconstruindo a cidadania: o surpreendente caso do Jardim Colombo

 

O Jardim Colombo é um bairro que forma parte do complexo de Paraisópolis, em São Paulo. É uma área densamente ocupada, onde moradias com menos de 20 metros quadrados não são incomuns e muitas construções alcançam mais de quatro pavimentos. O bairro, hoje, tem cerca de 15 mil moradores, mas quase nenhum deles tem propriedade formal sobre a sua casa, nem mesmo aqueles que vivem lá desde a década de 1970, quando começou a ocupação.

 

O Arq.Futuro tem apoiado os moradores do Jardim Colombo em um projeto de transformação territorial chamado Parque Fazendinha. Trata-se de converter em local de lazer uma área desocupada do bairro que, há cerca de 15 anos, vinha sendo usada como ponto de descarte de entulho e resíduos domésticos pela população.

 

Terreno do Fazendinha antes dos mutirões de 2017

Terreno do Fazendinha antes dos mutirões de 2017

 

Fazendinha no início de 2018, após os mutirões

 

Os primeiros mutirões de limpeza foram realizados em dezembro de 2017, e em julho de 2018 ocorreu o primeiro festival de arte e cultura da comunidade neste terreno, com shows, oficinas e apresentações. Desde então, diversas outras atividades têm sido realizadas ali, e a área está gradativamente sendo preparada pela comunidade para se tornar um local limpo e seguro para o convívio.

 

Mobilização comunitária

 

Fazendinha após quatro meses de intervenção comunitária: terraços para o lazer da vizinhança

 

O mais importante nesse processo tem sido a mobilização e a conscientização da comunidade. Os moradores estão deixando de jogar seu lixo e entulho no local, e as lideranças dialogam com os serviços públicos para solucionar as deficiências na varrição e na coleta de resíduos do bairro, onde a coleta porta-a-porta não é possível porque as ruas são demasiado estreitas para os caminhões.

A remoção do lixo que estava no terreno deu destaque para as árvores do local, enquanto oficinas de horta comunitária têm resgatado o interesse dos moradores pela preservação do meio ambiente. A organização das partes mais planas do terreno em terraços e a instalação de bancos feitos com pallets reaproveitados foi o suficiente para gerar o uso espontâneo do espaço pelos moradores do bairro.

 

Sonhando com um uso melhor dos espaços públicos

 

Desenhos das crianças do Jardim Colombo mostrando o Parque Fazendinha que gostariam de ter. Os desenhos foram realizados como parte da oficina Fazendinhando, promovida pela consultoria urbana A Terceira Margem, no contexto do Fazendinhando – I Festival de Arte e Cultura do Jardim Colombo

 

Numa das atividades realizadas, as crianças foram convidadas a desenhar o que gostariam de ver no Parque Fazendinha no futuro. Sua visão de um espaço qualificado num lugar que ainda tem feições de um lixão nos enche de esperança. Podemos usar isso como uma referência de como o imaginário que temos dos nossos espaços públicos e das nossas cidades é muito diferente da realidade, resultado do descaso e da falta de cuidado.


Além do engajamento dos moradores, foi montado um programa de voluntariado aberto, que hoje conta com mais de uma dezena de apoiadores externos participando ativamente do planejamento de atividades e angariação de fundos, sempre em conjunto com as lideranças e voluntários da própria comunidade.

A partir deste pequeno e simbólico projeto numa comunidade carente, vemos a prova cabal de que conscientização e ativismo comunitário são componentes fundamentais da vida contemporânea em espaços urbanos. O engajamento cívico, resgatando Jane Jacobs, é o elemento de ligação para a formação do pacto social que define não apenas a cidade em que queremos viver mas, e principalmente, a sociedade que queremos ser.