A Cidade do Futuro, o futuro das cidades

O Arq.Futuro dá início a uma série de publicações sobre o futuro das cidades
12/05/2017
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O Arq.Futuro é uma plataforma para discutir o futuro das cidades. Nos últimos seis anos, por meio de livros, seminários, vídeos e site, recebemos contribuições de grandes pensadores da realidade urbana contemporânea tratando de temas diversos como habitação, espaços públicos, rios urbanos, economia das cidades, mobilidade, parques e cidadania. Procuramos dar visibilidade a análises consistentes sobre os problemas e soluções para as cidades de hoje, integrando o Brasil ao diálogo que ocorre na rede mundial de cidades, em que experiências locais são compartilhadas e inspiram mudanças em outros países, outros contextos.

 

Ao longo dos anos, uma intuição vem se confirmando: a cidade do futuro já chegou, já está presente. Tornaram-se corriqueiras algumas dinâmicas urbanas que, há alguns anos, pareciam distantes das cidades e da sociedade brasileiras: a vontade de ocupar espaços públicos, a busca por alternativas ao transporte em carros particulares, e a retomada do interesse da classe média pelos apartamentos centrais, em detrimento de casas em condomínios afastados.

 

No Brasil e em diversos outros países de renda média e baixa, camadas sociais mais pobres foram incluídas na rede de comunicação internacional como consequência da queda dramática no preço dos smartphones e da internet sem fio de alta velocidade. Isso permitiu que informações e ideias se disseminassem de forma mais democrática – democratização que é potencializada nas plataformas que permitem aos usuários compartilhar seu próprio conteúdo (blogs, Facebook, Twitter, YouTube), minando a lógica unidirecional dos meios de comunicação que prevalecera até então. O passo maior foi dado quando se tornaram comuns as plataformas em que os usuários podem contribuir inserindo dados e produzindo ativamente o conteúdo que é comunicado.

 

A replicabilidade da tecnologia de aplicativos para smartphones fez com que essas novas dinâmicas se espalhassem de forma rápida e maciça. No mundo todo, aplicativos de emprego, trânsito e imóveis que conectam diretamente vendedor e comprador, ou que interpretam big data dos usuários, vêm transformando as cidades, revolucionando a mobilidade, o compartilhamento de espaços de trabalho e volta da classe média aos centros urbanos.

 

Por outro lado, em contraposição às dinâmicas emergentes das cidades do futuro, persiste uma agenda de problemas urbanos herdados dos séculos passados. A falta de saneamento nas cidades brasileiras é o caso mais gritante: mais de 60% do esgoto produzido no país é despejado no ambiente sem tratamento; apenas metade dos domicílios brasileiros estava conectada à rede de coleta de esgoto em 2015. Outro atraso é a falta de habitação acessível e de qualidade – o Brasil tem atualmente um déficit de 6,1 milhões de unidades habitacionais. Esse montante é composto por três milhões de famílias que comprometem mais de 30% de sua renda com aluguel, dois milhões de famílias vivendo em situação de coabitação (mais de uma família por domicílio), 863 mil famílias em habitações precárias e 515 mil famílias em situação de adensamento excessivo.

 

Em síntese, a pauta urbana atual tem, ao mesmo tempo, problemas do século XX e dinâmicas do século XXI. Soluções de habitação, trabalho e transporte que se imaginavam para o futuro são cada vez mais comuns – basta pensar nos espaços de coworking, compartilhamento de carros e bicicletas, redes de aluguel dinâmico de quartos, que hoje fazem parte do cotidiano das cidades. Ideias para as cidades do futuro não são mais exclusividade do meio acadêmico e já aparecem nas conversas dos cidadãos comuns. As ciclovias estão sendo usadas mais e mais, e os espaços públicos voltaram a ser ocupados, até de forma festiva. Em São Paulo, isso é especialmente visível no carnaval de rua, na Parada do Orgulho LGBT, nas viradas culturais, na Paulista Aberta – e há movimentos igualmente relevantes em tantas outras cidades brasileiras.

 

O cidadão se torna ativista e toma a dianteira no processo de dar novos usos para os espaços públicos. Não espera que o governo produza as mudanças no seu ritmo: expressa as suas demandas e cobra a administração pública. Essas mudanças de pensamento e de comportamento, ainda que incipientes, parecem apontar para um processo irreversível. A cidade do futuro já se revela na cidade do presente.

 

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28ª Pesquisa Anual de Administração e Uso de Tecnologia da Informação nas Empresas, FGV

Instituto Trata Brasil, 2017

PNAD-IBGE 2015 e FGV Projetos