A metrópole verde da americana Betsy Rogers

06/04/2016
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Por Laura Greenhalgh

Aos 80 anos, a americana Elizabeth Barlow Rogers, uma das grandes especialistas em paisagismo urbano, continua ativa e comprometida com o legado que pretende deixar para as futuras gerações. Ela acaba de lançar, pela editora Knopf, mais um trabalho de pesquisa sobre a natureza da cidade que adotou nos anos 60 e que seria a grande paixão de sua vida. O livro se revela já pelo título – Green Metropolis: The Extraordinary Landscapes of New York City as Nature, History and Design.

Neste livro, Elizabeth elege sete “landscapes” novaiorquinas, entre elas, a região do High Line, o FDR Memorial, na Roosevelt Island, as florestas do Inwood Hill Park e a sua queridíssima Ramble Area, no Central Park --  lembrando que Elizabeth, ou Besty, como é mais conhecida, foi a primeira administradora do famoso parque, criando para ele o Departamento de Conservação, no formato de uma parceria público-privada que trouxe vida nova ao lugar.

Betsy cresceu em paisagem bem diversa, na região de San Antonio, Texas, onde ainda hoje mantém o rancho da família. Em 1964, mudou-se para Nova York, depois de ter passado pela formação em artes no Wellesley College (MA), já a caminho do mestrado em planejamento urbano na Universidade de Yale. Foi capturada pela (nem sempre revelada) natureza novaiorquina, tanto que, em 1971, publicaria seu primeiro trabalho com este foco -- The Forests and Wetlands of New York City. Um pouco mais tarde, publicaria Landscape Design, obra de referência para quem estuda paisagismo urbano.

Em 2014, Betsy veio ao Rio de Janeiro para participar de encontros do Arq.Futuro, quando teve oportunidade de repassar, para especialistas e diante do público, sua rica experiência como primeira conservadora do Central Park. Nessa ocasião, visitou o Parque Sitiê, no Morro do Vidigal, e o Parque do Flamengo. No primeiro caso, conferiu a ação de uma comunidade no sentido de recuperar uma área degradada, debruçada sobre uma das vistas mais deslumbrantes do Rio. No segundo, revisitou um dos ícones do paisagismo modernista, concebido por Burle Marx, também alvo de seus estudos. Ainda que informalmente, Betsy continua acompanhando o desenvolvimento dos dois parques cariocas.

Na edição de abril de 2016, a elegante Betsy Rogers foi tema de um perfil da revista Vanity Fair, ilustrado com belo retrato feito pela fotógrafa Annie Leibovitz. Oportunidade em que, mais uma vez, reafirmou um dos seus princípios como conservadora de parque: é preciso sempre criar consenso. Betsy é a prova de que cuidar de um espaço público com tantos usuários, e no meio de tantos interesses, exige não só conhecimento, mas boa dose de diplomacia. Foi assim que ela apazigou os protetores de pássaros e os defensores de um novo paisagismo para a Ramble Area, no Central Park. Entre o intocável e o que precisa ser mudado, prevaleceu o bom senso. E a cidade saiu ganhando.

* Laura Greenhalgh é jornalista e diretora do Arq.Futuro.