Cidades precisam ser pensadas de forma mais integrada

Dia Mundial do Urbanismo convida para reflexão sobre a cidade em que queremos viver
08/11/2017
Compartilhar:

A urbanização do Brasil intensificou-se nos últimos 70 anos; hoje, mais de 84% da população do país já vive em centros urbanos, superando o índice mundial, de 55%. Uma transformação muito rápida que evidencia que as cidades são organismos vivos e complexos e exigem um debate amplo, focado em planejamento, funcionalidade e visão sustentável e criativa para comportar o crescimento da população e todos os desafios que chegam com ele.

 

As cidades enfrentam problemas de infraestrutura básica, mobilidade, saneamento básico, moradia e segurança; os recursos de que dispõem não são suficientes para suprir as necessidades de seus moradores. Chegamos a 2017 com urgência no debate sobre a organização urbana, e por esse motivo, o urbanismo ganhou uma data anual em todo o mundo: 8 de novembro. O Dia Mundial do Urbanismo, assim, é um convite para a reflexão sobre o tipo de cidade que vivemos e que queremos viver.

 

“Os processos de pensar as cidades ainda são muito políticos no Brasil. É fundamental pensar também sob o viés econômico, trabalhando em projetos que sejam viáveis quando saem do papel, com foco em ações mais práticas do que teóricas”, pontua Tomás Alvim, cofundador do Arq. Futuro, uma plataforma de discussão sobre as cidades que tem como objetivo democratizar a informação sobre temas urbanos e contribuir para a melhoria da qualidade de vida das cidades brasileiras.

 

Visão integrada do tema

 

A mudança exige um olhar sistêmico para os centros urbanos, entendendo como cada peça desse grande quebra-cabeça se encaixa, e não tomando decisões baseadas em um ou outro aspecto de forma independente.

 

“É impossível falar em planejamento urbano sem discutir moradia e deslocamento, uma vez que é preciso percorrer longos trajetos de casa para o trabalho, o que impacta diretamente o transporte. Somente em São Paulo, são mais de 1 milhão de pessoas deslocando-se das cidades da Região Metropolitana para trabalhar”, exemplifica Alvim.

 

Esta é a realidade de todas as capitais e centros regionais do país e mostra a importância de incluir mais agentes no debate. Os caminhos para cidades melhores e mais eficientes não está restrito aos órgãos públicos, de acordo com especialistas.

 

“Integração é a palavra-chave quando falamos em tornar nossas cidades melhores. As cidades são organismos complexos a tal ponto que políticas setoriais desarticuladas, além de perdulárias, mostram-se ineficazes e, por vezes, até prejudiciais. Se somarmos a isso o fato de que vivemos em um contexto de restrição orçamentária persistente, chegaremos a uma situação-limite”, alerta Vinicius Andrade, corresponsável pelo desenvolvimento de projetos urbanos e vice-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento São Paulo. “Se não formos capazes de construir uma gestão transversal, ou seja, que articule os diversos setores da administração pública e privada com a sociedade civil, assistiremos, impotentes, ao barco afundar conosco dentro”, acrescenta. 

 

Andrade destaca ainda que o urbanismo deve ser entendido como um ambiente em que diferentes atores sociais se encontram para pensar e agir de forma sinérgica. O objetivo é pensar soluções sistêmicas, promovendo a consonância de saberes e de desejos como caminho para alcançar resultados palpáveis.

 

“A questão, particularmente no Brasil, é encontrar caminhos convergentes, capazes de fazer a sociedade como um todo se engajar e se comprometer com sua viabilidade. O que precisamos é justamente elaborar estratégias capazes de mudar um sistema que hoje se encontra paralisado”, complementa Andrade.

 

Sustentabilidade

 

Sustentabilidade e cidades inteligentes são conceitos fundamentais para se pensar em projetos integrados que possam ser aplicados de forma prática e com eficiência. Podemos olhar para as smartcities como grandes aliadas para a melhor gestão dos recursos e um melhor planejamento de serviços e infraestrutura para a população.

 

“As dimensões da sustentabilidade consideradas no planejamento urbano definem as ameaças e oportunidades para a cidade. Existe uma tendência em se analisar estas dimensões e consequentes decisões de forma compartimentada, mas o grande desafio é integrar todas”, afirma Priscila Borin Claro, professora e coordenadora do Núcleo de Estudo em Meio Ambiente e Centros Urbanos do Insper. “Não é possível planejar gestão de recursos hídricos e saneamento urbano sem pensar em moradia especialmente na base da pirâmide. Por sua vez, moradia não pode ser dissociada do planejamento de infraestrutura urbana”, explica.

 

A especialista defende ainda que o grande avanço em smartcities é considerar a criatividade de todos os públicos no planejamento e escolhas das estratégias de inteligência coletiva e incluir as experiências das pessoas na construção dos espaços urbanos compartilhados.

 

Urbanismo pensado de forma estratégica

 

O debate sobre urbanismo é muito amplo, pelas diferentes análises necessárias e pelo volume de público envolvido. O tema precisa ser pensado e debatido por todos sob o viés do planejamento alinhado à melhor eficiência, diminuição da desigualdade e mais qualidade de vida. Extrapolar o entendimento para diferentes profissionais e áreas de conhecimento, fomentando o seu pensar de forma integrada é o objetivo da segunda edição do curso sobre o tema do Insper.

 

O curso Urbanismo, Cidades e Liderança Consciente inicia-se em março de 2018 com carga horária de 40 horas. Ele traz uma visão ampla, passando pelas principais discussões em torno da construção e da dinâmica de uma cidade, estimulando a aproximação entre a sociedade civil, o poder público e a iniciativa privada. A finalidade é criar possibilidades inovadoras e efetivas de desenvolvimento sustentável para os centros urbanos.

 

As aulas serão entre os dias 12 a 16 de março, das 9h às 18h30. Para participar é preciso ter formação superior completa, mas não é necessário ser da área de Arquitetura e Urbanismo.

 

Para mais informações clique aqui. Acesse nosso canal do YouTube  para assitir aos depoimentos de professores do curso.