Por Laura Greenhalgh
“Os londrinos sabem o quão especial é a sua cidade para eles. Assim como sabem que o desenvolvimento futuro da sua capital depende de uma visão equilibrada. Edifícios altos podem trazer uma excelente contribuição para a vida urbana, desde que sejam bem localizados e bem desenhados. Mas, em lugares errados, eles podem causar sério prejuízo”. Assim Duncan Wilson, chefe da Historic England, divisão britânica responsável pelo patrimônio arquitetônico do Reino Unido, comentou a pesquisa divulgada recentemente, segundo a qual 48% dos londrinos rejeitam a abundância de projetos arquitetônicos que modificam o skyline da cidade, contra 34% de pessoas que os aprovam.
O tema passou a ser um dos mais difíceis para os candidatos à Prefeitura de Londres, cuja eleição deverá acontecer no mês de maio. Especialistas em patrimônio têm feito alarde sobre os dados desta London Tall Buildings Survey, publicada no mês passado pelo independente New London Architecture Forum: existem hoje 436 projetos de novas torres para Londres, ou em fase de construção ou já aprovados para construção. Dentre estes projetos, 1em cada sete tem mais de 40 pavimentos. E um cada 8, mais de 60 pavimentos. Trata-se de um acelerado processo alteração da paisagem urbana, já bem visível dos dois lados do Rio Tâmisa.
O estudo também detectou que há clusters de novas torres, regiões com nítida concentração de incorporações, como Tower Hamlets e Greenwich. E tudo aquecido por uma espetacular valorização imobiliária. Em pesquisa feita pelo site YouGov, 60 % dos londrinos cobram um efetivo canal de expressão a respeito destes projetos. Hoje, quando uma grande incorporação é aprovada, apenas os moradores do entorno são ouvidos sobre os impactos do projeto em suas vidas, como exige a legislação. O que se quer é que todos os londrinos possam se manifestar – posição endossada pela Historic England.
Alguns destes portentosos edifícios já causaram muita discussão. É o caso do The Walkie Talkie Building (20, Fenchurch Street), no histórico distrito financeiro de Londres. Projetado pelo arquiteto uruguaio Rafael Viñoly, este centro comercial teve sua construção de 34 pavimentos concluída em 2014 e é o quinto mais alto da City.
O premiado arquiteto ousou projetar um “Sky Garden” na cobertura, com a intenção de criar o parque mais alto da cidade. Nem assim agradou. Os londrinos não adotaram aquele jardim suspenso como espaço público e, no ano passado, o projeto de Viñoly levou a Carbuncle Cup, prêmio para o edifício novo mais feio de Londres. Não há como negar o impacto visual da torre de formas estranhas, nas cercanias da Catedral de St. Paul.
Nesta terça-feira (5/4), circulou pelos veículos de comunicação uma carta aberta assinada por Sir Laurie Magnus, presidente da Historic England, e Sir Terry Farrell, renomado arquiteto e urbanista britânico. O documento endereça a discussão exatamente para a reta decisiva da corrida eleitoral, colocando nas mãos do futuro prefeito a responsabilidade de criar uma estratégia clara para o skyline londrino, dentro de um novo Plano Diretor da cidade. Dizem os signatários:
“Nossa grande capital é fonte de orgulho nacional e nossa marca registrada para o mundo. O extraordinário dinamismo de Londres é uma espécie de coquetel que inclui estabilidade política, segurança, geografia, linguagem, diversidade, clima, infraestrutura, criatividade, empreendedorismo e, não podemos nos esquecer, rara beleza. O legado do próximo prefeito será julgado por sua contribuição para a continuidade desse sucesso. Dada a atual pressão por novos edifícios para acomodar o aumento populacional e uma economia em expansão, a parte mais crítica deste julgamento será baseada em como o futuro prefeito, ele ou ela, promoverá a excelência em inovação e design urbanos, respeitando o tesouro de nossas edificações e paisagens históricas”.
* Laura Greenhalgh é jornalista e diretora do Arq.Futuro.
O skyline londrino, tema para possíveis prefeitos
05/04/2016